A ideia de realizar um encontro de juventude surgiu no Terreiro de Chão Batido de 2012, com o objetivo de, através da apropriação tecnológica e midiática, registrar os saberes e fazeres ancestrais. O Terreiro de Chão Batido é um encontro inter geracional que acontece no território CoMPaz, onde os mestres da cultura popular são convidados a compartilhar seus saberes com crianças, jovens e adultos, através da contação de histórias, danças, músicas, rezas e ritos. A primeira edição do Ipadê da Juventude teve como público principal os jovens quilombolas e indígenas. Na segunda edição, o público foi ampliado, contemplando a diversidade da juventude: quilombolas, indígenas, estudantes, participantes de organizações e movimentos sociais, moradores de áreas urbanas e rurais e pessoas interessadas na temática.
Com o mesmo objetivo do Ipadê da Juventude, surgiu o Projeto Abayomi, contemplado como Prêmio do Edital Ideias Criativas da Fundação Palmares de 2014. Neste projeto foram propostas oficinas de comunicação, tendo como instrumento principal o audiovisual para que os jovens, de forma simples e com ferramentas de fácil acesso, como celulares e câmeras compactas, associados ao uso de softwares livres de edição de vídeo, pudessem compreender o processo de registro de fazeres e saberes como um ação de resistência e valorização cultural. Apropriados desses conhecimentos, os jovens podem ser agentes da salvaguarda das memórias em suas próprias comunidades.
As oficinas propostas no Ipadê da Juventude trazem para o centro da construção do conhecimento técnicas como bioconstrução, pintura mural, música e dança. Todas as atividades foram permeadas pela oficina de apropriação tecnológica do Projeto Abayomi, que prevê a produção, criação e difusão alternativa de conteúdos multimídia, estimulando ações de fortalecimento e circulação de conhecimentos de cultura digital e memória. Os participantes organizaram-se em grupos pra fazer o registro das atividades propostas no Ipadê da Juventude. Foram orientados por Patricia Pinheiro e Vania Pierozan a planejar as etapas de criação do vídeos, desde a coleta de imagens e áudios, pensando nas questões técnicas e políticas que envolvem a comunicação através do audiovisual. O resultado dessa oficina foi a produção de 5 vídeos, que serão conteúdos de blogs e redes sociais das instituições e dos jovens participantes. Os vídeos foram editados em kdenlive, software livre de edição audiovisual.
Raquel Dvoranovski e Clara Freund, da Senda Viva, orientaram os participantes sobre bioconstrução através da criação de um forno de barro. Essa oficina foi linda e intensa. Pra construir o forno foram utilizados os seguintes materiais: tijolo refratário, tijolo de barro, areia, açúcar, palha, terra e água. Os fornos de barro são uma tecnologia ancestral, e construídos assim de forma coletiva, carregam a força da unidade dos povos. Pra amassar o barro, muita cantoria, dança, alegria e chuva de luz!
Música e dança também tiveram lugar de destaque no encontro. John Silva compartilhou seus conhecimentos poéticos e musicais através da proposta de composição musical coletiva. De forma descontraída e bastante pedagógica, os participantes foram estimulados a expressar como gostariam que o mundo fosse no futuro. Esses desejos foram transformados em música, que já foi usada como trilha sonora nos vídeos criados na oficina de apropriação tecnológica.
Teve também roda de Maculelê. A educadora de dança Daisy de Souza Reis contou a história do surgimento dessa dança e colocou os participantes pra se mexer ao som do tambor e dos bastões. O contato com elementos da cultura africana são um aspecto importante nas atividades propostas no Território da CoMPaz.
Na oficina de Pintura Mural, coletivamente definiu-se por fazer o registro das atividades do Ipadê, representando a dança e a música através da roda de maculelê e a valorização da alimentação, através da representação do forno de barro. O resultado ficou bastante interessante e colorido, as paredes da Casa Verde agora estão marcadas pelas nossas sensações e representações artísticas do que representou o encontro para os participantes. Vania e Yasmine orientaram essa atividade.
O foco principal das oficinas não é uso da tecnologia em si, mas a salvaguarda do patrimônio imaterial e identidade cultural dos povos através da utilização de ferramentas de registro e difusão de conteúdos que valorizem a memória ancestral, os saberes e fazeres dos mestres da cultura popular.
Veja os vídeos de registro das oficinas, produzidos pelos participantes do Ipadê da Juventude 2015 / Projeto Abayomi .