A tarde do terceiro dia de encontro da Pajelança Quilombólica Digital – Territórios Digitais Livres se iniciou com o mestre e fundador da Casa de Cultura Tainã, TC Silva, ressoando em seu tambor a celebração à Vida. Yashodhan, residente da comunidade Morada da Paz (RS), fez uma prece à Exu e Oxalá para que sob a proteção de ambos o diálogo fosse construtivo, harmonioso e frutífero.
Renato Simões (Secretaria Nacional de Articulação Social da Presidência da República), Geovani Martins Ferreira, Paulo Nishi e Francisco Alves e Silva (Xixico) (Fundação Banco do Brasil), Victor Mammana (Centro da Tecnologia da Informação Renato Archer – MCTI), Carlos Alberto Oliveira (Vereador de Campinas – SP), Edson Anício Duarte (Instituto Federal de Campinas), Ricardo Neder (Professor da Universidade de Brasília) e César Pereira (Secretaria de Assistência e Cidadania de Campinas) marcam presença e ouviram com atenção TC Silva explicar sobre a correlação das tecnologias africanas com as usuais do mundo contemporâneo. “As Áfricas produzem conhecimentos”.
Mestre TC abriu a roda de apresentações. “Quero agradecer a todos e a todas por acreditarem na nossa luta. É uma grande honra para a gente estar abrigando mais uma Pajelança. Este território tem 25 anos dentro da comunidade. Temos aqui a base do Movimento Negro no Brasil. Eu comecei essa luta ainda na creche, onde eu era tratado com indiferença, porque eu era sempre o culpado simplesmente por ser negro”.
Após tocar um instrumento africano centenário de cordas, TC ergueu seu punho direito em direção ao centro do círculo que abrigou os tambores e uma muda do Baobá. “Isso é baobáfricanizando as Américas”, proclamou. TC agradeceu a Fundação Banco do Brasil pelo apoio à Pajelança e pela presença de seus representantes.
Uma paciente do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), que realiza atividades recreativas na Tainã, também agradeceu o acolhimento de todos. “Eu agradeço muito a vocês! É uma terapia poder participar e estar aqui. Vocês estão de parabéns!”
Um vídeo sobre a Rede Mocambos e Pajelanças Quilombólicas foi exibido para informar os presentes sobre o GESAC (Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão) e de como esse foi o primeiro grande passo para instalar a Baobáxia, repensando na humanização da sociedade. “É importante que as comunidades se apropriem das tecnologias para poderem sobreviver”, completou o mestre TC.
“Pela falta de tecnologia nas grandes redes periféricas, nós criamos o Baobáxia. É uma tecnologia social de economia solidária que facilita a organização e valorização de conteúdos. Temos outras tecnologias que estamos aprimorando, mas não temos infraestrutura para desenvolver em toda a rede que temos. Por limitações econômicas, não temos o apoio necessário para dar continuidade no trabalho de formação dos cidadãos com essas tecnologias. Queremos dialogar formas para que a comunidade não fique só na pesquisa, mas se prolongue como um programa que vinga, não apenas um produto em curto prazo. Não queremos apenas os parabéns com portas fechadas, queremos destravar as coisas para que o fluxo positivo se expanda pelo Brasil. Não queremos um projeto limitado que não respeite as práticas e valores simbólicos da Comunidade, principalmente a do Baobá, que ensina a resgatar o seu tempo e colocar as coisas no Tempo. Queremos um território digital que tenha os mesmos valores que as comunidades têm, não esse mundo monopolizado que se apressa e atropela”. Esclareceu Vincenzo Tozzi, um dos desenvolvedores do Baobáxia.
O diálogo se estendeu dissertando sobre o patrimônio e riquezas do acervo das africanidades, assim como conteúdos pedagógicos e informativos sendo colocados em pauta.
Victor Mammana (CTI) apresentou na roda de diálogos uma proposta de convênio com o Governo Federal chamada “Wash”. O projeto formalizado em um documento foi entregue nas mãos de TC Silva.
“Vamos deslumbrar um horizonte muito importante. Nossa iniciativa como uma incubadora universitária pode ser acompanhada por outras inúmeras incubadoras espalhadas pelo país, resistindo bravamente contra essa desvalorização da memória. Estamos fazendo uma revolução cognitiva. Tecnologia Social não é uma coisa de pobre, é o melhor da Tecnologia Humana aplicada nas comunidades”, explicou Ricardo Neder da Universidade Federal de Brasília.